Sérgio Godinho | Os demónios de Alcácer Quibir

Título: Os demónios de Alcácer Quibir
Intérprete: Sérgio Godinho
Álbum: De pequenino se torce o destino
Ano: 1976
 
 
O D. Sebastião foi para Alcácer-Quibir
De lança na mão a investir a investir
Com o cavalo atulhado de livros de história
E guitarras de fado para cantar vitória

O D. Sebastião já tinha hipotecado
Toda a nação por dez reis de mel coado
Para comprar soldados lanças armaduras
Para comprar o "V" das vitórias futuras

O D. Sebastião era um belo pedante
Foi mandar vir para uma terra distante
Pôs-se a discursar: isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu

Mas o mouro é que conhecia o deserto
De trás p'ra diante e de longe e de perto
O mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
O mouro é que jogava em casa

E o D. Sebastião levou tantas na pinha
Que ao voltar cá encontrou a vizinha
Espanhola, sentada na cama deitada no trono
E o país mudado de dono

E o D. Sebastião acabou na moirama
Um bebé chorão sem regaço nem mama
A beber a contar tim por tim tim
A explicar e a morrer, sim, mas devagar

E apanhou tal dose do tal nevoeiro
Que a tuberculose o mandou para o galheiro
Fez-se um funeral com princesas e reis 
E etecetra e tal, Viva Portugal
 

A versão original deste tema épico foi lançada no álbum "De pequenino se torce o destino" de 1976. A versão apresentada no vídeo é posterior e ligeiramente diferente.

Sérgio Godinho | Lisboa que amanhece

Título: Lisboa que amanhece
Intérprete: Sérgio Godinho
Álbum: Na vida real
Ano: 1987
 
 
Cansados vão os corpos para casa
Dos ritmos imitados de outra dança
A noite finge ser
Ainda uma criança
De olhos na lua
Com a sua
Cegueira da razão e do desejo

A noite é cega e as sombras de Lisboa
São da cidade branca a escura face
Lisboa é mãe solteira
Amou como se fosse
A mais indefesa
Princesa
Que as trevas algum dia coroaram

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece

O Tejo que reflecte o dia à solta
À noite é prisioneiro dos olhares
Ao cais dos miradouros
Vão chegando dos bares
Os navegantes
Amantes
Das teias que o amor e o fumo tecem

E o Necas que julgou que era cantora
Que as dádivas da noite são eternas
Mal chega a madrugada
Tem que rapar as pernas
Para que o dia
Não traia
Dietrichs que não foram nem Marlenes

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece

Em sonhos, é sabido, não se morre
Aliás essa é a única vantagem
De, após o vão trabalho
O povo ir de viagem
Ao sono fundo
Fecundo
Em glórias e terrores e venturas

E ai de quem acorda estremunhado
Espreitando pela fresta a ver se é dia
A esse as ansiedades
ditam sentenças friamente ao ouvido 
Ruído
Que a noite o que é bem dela transfigura

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece
 

Versão original do tema "Lisboa que amanhece", incluída no álbum "Na vida real" de 1987.

 
Título: Lisboa que amanhece
Intérprete: Sérgio Godinho
Álbum: Noites passadas
Ano: 1995
 
 
Cansados vão os corpos para casa
Dos ritmos imitados de outra dança
A noite finge ser
Ainda uma criança
De olhos na lua
Com a sua
Cegueira da razão e do desejo

A noite é cega e as sombras de Lisboa
São da cidade branca a escura face
Lisboa é mãe solteira
Amou como se fosse
A mais indefesa
Princesa
Que as trevas algum dia coroaram

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece

O Tejo que reflecte o dia à solta
À noite é prisioneiro dos olhares
Ao cais dos miradouros
Vão chegando dos bares
Os navegantes
Amantes
Das teias que o amor e o fumo tecem

E o Necas que julgou que era cantora
Que as dádivas da noite são eternas
Mal chega a madrugada
Tem que rapar as pernas
Para que o dia
Não traia
Dietrichs que não foram nem Marlenes

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece

Em sonhos, é sabido, não se morre
Aliás essa é a única vantagem
De, após o vão trabalho
O povo ir de viagem
Ao sono fundo
Fecundo
Em glórias e terrores e venturas

E ai de quem acorda estremunhado
Espreitando pela fresta a ver se é dia
A esse as ansiedades
ditam sentenças friamente ao ouvido 
Ruído
Que a noite a seu costume transfigura

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece
 

Em 1995, Sérgio Godinho lança o álbum ao vivo "Noites passadas", onde interpretava o tema sózinho apenas com guitarra, numa versão idêntica à do vídeo apresentado, gravado, igualmente ao vivo, num programa de TV do mesmo ano.